sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Marshmallow



Sou como um marshmallow com cobertura de chocolate: 
duro por fora, mas macio e doce por dentro. 
Trinco com facilidade e quando dou por mim, 
todo o meu recheio esparramou-se, 
e desperdiçou-se, 
irrecuperavelmente.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Caminhando com "Outubro", lendo a poesia de Nei Duclós.


Era início da tarde quanto ele chegou às minhas mãos.  Arrumava-me para ir ao centro da cidade, quando um raio de felicidade tomou meu espírito: finalmente terminaria a árdua saga de uma busca que se iniciara uns três ou quatro anos antes. Tomei conhecimento dele através de um amigo. 

Desembalei com a mesma ansiedade que uma criança abre um presente de aniversário. A primeira imagem que vi ao realizar um rasgo mais forte no papel pardo carimbado pelos Correios foram as asas abertas de um pássaro em direção ao sol que, inicialmente, não soube distinguir se nascente ou poente. Quando por fim o tive por completo em minhas mãos, observei cada marca registrada pelo tempo: sua capa estava bastante arranhada, escurecida, perfurada por traças, mas também habitada por muitas mãos...  A lombada possuía alguns rasgões. As páginas estavam amareladas, com perfurações e algumas marcas de caneta. Mas nada, absolutamente nada dessas deformidades em sua matéria foi capaz de comprometer a beleza de seu interior. 




No corpo estavam os versos de Outubro escrito por Nei Duclós. 

"Lento e bruto
Eu mudo
Sei que vem
Outubro"  

Foram os primeiros versos lidos, que surgiram rasgando-me os olhos, apresentando-se antes mesmo da  ficha catalográfica. Acima estava uma dedicatória, singela e poética, com data de 02/06/1976. Por um instante invejei seu destinatário. Mas, em seguida, percebi minha sorte. E sigo perseguindo as marcas, como se persegue a vida, pois logo percebo uma assinatura feminina o que me levou a crer que, provavelmente além do tal destinatário, ele havia viajado por muitas mãos. Fiquei triste e ao mesmo tempo feliz; não fossem estes leitores itinerantes, ele não chegaria até mim.

Levei-o comigo, e o tive como companheiro na fila do banco. Fazendo os cálculos a partir do que li na orelha, dei-me conta que os poemas impressos naquelas páginas em tom de sépia foram escritos quando seu autor ainda nem completara 25 anos. Entretanto, havia maturidade naquelas linhas, mesclada a uma certa inocência, e quanto mais lia, mais gostava do que desvendava. Tanto que nem vi quando o display eletrônico foi acionado para que eu me encaminhasse ao caixa vazio. Logo após, me dirigi à papelaria e adquiri "papel contact" para restaurar minha relíquia. Restauro poético e histórico.  Dalí, fui seguindo o dia por minha cidade com ele sob meus olhos. Ia e voltava dos meus afazeres, mas não o perdia de vista. Li, reli e enquanto esperava por guias médicas no guichê do meu plano de saúde, melhorei.
Folhava-o novamente e as gravuras chamavam minha atenção. Elas harmonicamente dialogavam com os versos, e ambos comigo... Uma mensagem novamente emocionou-me ao saltar daquelas páginas:

"Digo para mim: fica tranquilo
as coisas não são tão terríveis
és um anjo de asas brancas
o sol desta manhã cinza

(...)
Sossega, tudo vem, uma larva no pescoço
um acidente, o amor de quando em pouco

Por isso bebe a água, come a carne
a falta de um almoço não te mata
Deixa o tempo engatilhar sua arma 

Nasceste para durar pouco
ou não durar nada
mas durar é secundário

Antes de partir
deixarás pegadas na areia
para a memória do vento"

Pareciam conselhos de um velho pai consternado com a dor de um filho.  Havia pedaços de mim impressos no que colhia nas páginas daquele livro, e isso antes mesmo de meu nascimento, sem que eu ao menos tivesse cruzado o caminho de seu autor uma única vez. Este é um dos diversos poderes da Poesia: unir as almas e experiências dos homens através daquilo que os torna humanos: a linguagem. Por mais muitas vezes recolhi as  lágrimas que vertiam de meus olhos. 

Agradeço, então, àquele amigo que me indicou a leitura; ao autor, por sua sensibilidade e destreza em codificar os sentimentos humanos através das palavras; ao ilustrador, por traduzí-los em forma de risco e ao Universo por ter me permitido contemplar tudo isso, tão poeticamente.

Referências bibliográficas do livro citado neste texto:

DUCLÓS, Nei. Outubro. Ilustrações de Cláudio Levitan. Porto Alegre: A Nação/Instituto Estadual do Livro, 1975. 87p.

Ao Geraldo, com amor.

Sinto tanto sua falta, amigo!
Nada, nem ninguém é capaz de preencher seu vazio.
Não foi longo o tempo que compartilhamos,
Mas o suficiente para que ficassem impressas em mim eternas marcas suas.


Ainda te sinto em meus braços.
Ainda ouço sua voz.
Ainda me aqueço com o calor de seu corpo descansando sobre o meu.


Éramos unha e carne,
Corpo e sombra,
Companheiros, acima de tudo.


Se eu soubesse que aquela seria a última que te veria
Teria te prendido no abraço,
Te protegido,
Ou pelo menos me despedido melhor.


Ainda te amo, mesmo sem você aqui.
Ainda te amo e como amo!
Te amo e sempre te amarei, querido Gê!

(As fotos desse mosaico são todas minhas. Um autorretrato com meu amiguinho Geraldo, falecido em Outubro de 2010. Um amigo doce e carinhoso como poucos seres "deshumanos" que já cruzaram meu caminho até hoje).

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A outra face


Do alto da montanha, certa vez, o Mestre disse:
"Se alguém lhe der um tapa na face direita, ofereça-lhe também a esquerda!" (Mateus 5: 39).

Vários tapas tomei na face direita, 
E a esquerda, em seguida, ofertei.
Do mesmo modo o fiz
Quando ferida fui, também, 
Do lado esquerdo.
Por inúmeras vezes, 
Por diversos motivos
Das mesmas pessoas apanhei.

Decidi refletir sobre o ensinamento do Mestre
E compreendi que oferecer a outra face, na verdade
É agir com pacifismo...
Não com submissão e conformismo.




A partir de então, sobre minha face
Só aceito beijos, afagos, carícias...
Tapas, quando e se vierem, 
Serão sentidos de um único lado
Pois o outro já terá se virado
Na direção oposta
Com a própria força gerada pela pancada. 

Então, a única coisa que oferecerei ao agressor neste caso, 
Será a bela face das minhas costas.




domingo, 13 de fevereiro de 2011

A manequim ao lado foi o que restou de mim.


A edição deste domingo de nosso "Vidráguas poemas enRedados" me tocou de forma especial. Gostaria de parabenizar a todos os autores e, em especial, à Lisa Alves, pela bela imagem inspiradora. Confira este e outros poemas em http://vidraguas.com.br/wordpress/.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lágrimas de canção e dor


O disco está arranhado
Repetindo exatamente a frase
Hoje meu peito chora
Lágrimas de canção e dor.

A bela música não toca mais.
Era linda na primeira estrofe
Mas tornou-se melancólica
Justamente no refrão. 
Reforçando infinitas vezes:
Hoje meu peito chora
Lágrimas de canção e dor. 




Preciso reunir forças
Para conseguir me levantar
Trocar o disco arranhado
Ou desligar definitivamente a vitrola.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Migalhas

Não!
Não sou um cão
Que cata migalhas pelo chão.
Quero o melhor:
A carne mais nobre
A bebida mais fina.
Não um esnobe.



Preciso de alguém para complementar
Sem invadir
Para chamar de meu
Mesmo que por 5 minutos.
Por 5 segundos, que seja
Desde que intensos, únicos.
Não migalhas...